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Pequena biografia:


Sonia Rosa é carioca e escreve poesia desde os 13 anos. É mestre em relações étnico-raciais (CEFET/RJ), pedagoga, escritora de literatura negro afetiva pra crianças e jovens e consultora de letramento racial em escolas do Rio de Janeiro. É entusiasta da Lei 10.639/2003, que obriga todas as escolas brasileiras a pautarem dentro dos seus currículos as histórias de resistência e competência do povo negro em sua contribuição na construção do Brasil. Seus mais de 60 livros publicados, alguns premiados, alguns publicados no exterior (França, Canadá, Galícia e EUA), são recheados de amor e repletos de personagens negros protagonistas em ambientes onde estão presentes heróis negros e  o cotidiano infantil. Agraciada com treze bibliotecas batizadas com seu nome, costuma dizer que a Leitura sempre alimenta as ideias e os livros de literatura formam mentalidades, dai a responsabilidade do adulto ao escolher um livro pra uma criança. Todas as infâncias importam!
Instagram: @escritorasoniarosa

 

Para quem quiser saber mais:

Meu nome é Sonia Rosa. Sou escritora de literatura negro afetiva voltada para crianças e jovens. Cursei a graduação de Pedagogia na UERJ na década de 1980. Sou Mestre em Relações Étnico-Raciais pelo CEFET/RJ, com a defesa da dissertação intitulada: A literatura infantil afro-brasileira como letramento racial e fortalecimento das identidades negras, uma narrativa autobiográfica.

Sou contadora de histórias, professora e pedagoga. Trabalhei na rede pública municipal de educação do Rio de Janeiro durante trinta anos como professora e orientadora educacional. Esta foi uma experiência importante e que me agregou muito aprendizado. O inesquecível educador Paulo Freire nos dizia que ninguém ensina ninguém e ninguém se educa sozinho, nós aprendemos em comunhão. Em comunhão, ao longo dos anos, com variadas equipes pedagógicas, alunos, pais e funcionários aprendi e revi muitos saberes dentro do espaço da escola, vivenciando coletivamente a rotina escolar, que é muito rica em trocas e afetos, especialmente dentro das escolas públicas. Cada dia é sempre um dia novo, pois o trabalho com as crianças e os jovens é sempre renovador, trabalhar com elas e, particularmente, escrever para elas é sentir a sua presença, a sua singeleza. Cura todas as dores.

Tive duas matrículas neste serviço público. Fui lotada, com uma das minhas matrículas, durante quinze anos, no nível central da Secretaria Municipal de Educação (SME) onde trabalhei com os professores, especialmente os professores de Sala de Leitura, responsáveis por dinamizar a circulação dos livros estimulando a desenvolvimento pelo gosto da leitura dos professores e alunos. Foi um grande aprendizado este trabalho de assessoria à formação de leitores e promoção da Leitura no interior das escolas. Nesse trabalho sempre fui uma entusiasta da Lei 10.639/03 – Lei sancionada em 09 de Janeiro de 2003. Tornando obrigatório a inclusão do estudo da história e cultura afro-brasileira em todos os currículos escolares, e em especial as áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias brasileiras. Tendo sua abrangência em todo âmbito nacional, no ensino fundamental e médio, em escolas públicas e privadas, a inserindo a história e cultura afro-brasileira em todos os currículos escolares, e em especial as áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias brasileiras.

Ao final do ano de 1999, recebi das mãos do prefeito da cidade do Rio de Janeiro, juntamente com outros oitenta e nove colegas professores, o diploma Orgulho Carioca, em reconhecimento do desempenho apresentado em favor da Educação Pública Municipal. Nunca saí da ambiência da escola, o que me permitiu ter duas visões e atuações de trabalho, bem distintas; uma no “gabinete” pensando as ações (que muitas vezes não se concretizavam no âmbito das realidades das escolas) e a outra no “campo”, isto é, nas escolas reais e concretas, com todas as suas fortalezas e fragilidades.

Minha aposentadoria aconteceu no ano de 2014. Desde o meu primeiro dia de aula como professora, em minha primeira escola, usei a estratégia de contar histórias para os meus alunos. É dessa maneira que se forma um leitor: compartilhando histórias numa ação amorosa. Penso que esse bom hábito exercitado com meus alunos pode ter me proporcionado um ganho real de experiências, trocas, alegrias, vida, possibilidades e muitas outras janelas abertas que se abriram para a minha compreensão do mundo. Além de estreitar a intimidade com o texto literário, essa simples ação – tão estimulante – de partilhar uma história – provoca o pensar e o refletir sobre a vida. Tanto para quem conta, como para quem escuta a história. Essa ação diária junto aos meus alunos me levou a desejar ser escritora.

Quanto ao meu trabalho de orientadora educacional, propriamente dito, sempre acreditei que ao escutar as queixas ou mesmo conversar com um aluno dito “problema” reafirmava, para mim, a incapacidade que a escola tem de lidar com o diferente, com aquele que tem um percurso e uma expressividade própria. Algumas vezes, o professor tem sua percepção comprometida frente às inúmeras solicitações de sua profissão. Nessas situações, sua visão crítica fica pequena e seu olhar, viciado. Mesmo sem desejar, reforça preconceitos e segregação dentro da própria sala de aula e, geralmente, não percebe isso. O preconceito racial muitas vezes acontece dentro das escolas. Vejo essa questão aqui mencionada bastante delicada. Não vai aqui uma crítica severa aos meus colegas professores, apenas uma percepção sobre a possibilidade deles potencializarem a força que têm para refletirem sobre os conflitos. O grande caminho para isso é estudar bastante para ampliar seus horizontes através da aquisição de novos conhecimentos.

Minha vida de escritora infantil, desde o ano de 1995, voltada para a temática negra e afro brasileira, me provocou estudar bastante ao longo da vida, para compor os meus personagens da melhor maneira. Para entender, com profundidade, as questões negras que pulsam em nossa sociedade e visitam meus livros, que são, hoje, um total acima de cinquenta títulos publicados.

O meu livro inaugural foi O menino Nito, um menino negro protagonista. A narrativa do livro busca desconstruir a ideia machista acerca da expressão da emoção masculina, além de quebrar alguns paradigmas sobre a representação subalternizada da imagem do negro na literatura infantil, a partir da imagem desse menino negro protagonista amado por sua família. O ano era 1995, eu estava desde 1988 tentando publicar O menino Nito, mas o mercado editorial da época mostrava-se pouco receptivo às histórias com personagens e/ou protagonistas negros, principalmente para autores iniciantes.

Falando um pouco sobre minha trajetória profissional como autora, em 1995, ano que me tornei escritora, estava muito interessada em fundamentar as questões de ordem literárias e de formação de leitor. Havia acabado de fazer o curso de contação de Histórias com Francisco Gregório Filho, na Casa da Leitura e por isso iniciei o curso de especialização em Teorias e Práticas da Leitura, na PUC/RJ. Apresentei como monografia uma experiência em cinco escolas públicas onde, em parceria com a Casa da Leitura, sede do PROLER (Programa Nacional de Incentivo à Leitura), desenvolvi um trabalho de promoção de leitura junto aos alunos e professores.

Recebi no ano de 2000 um reconhecimento muito especial ao meu trabalho de escritora: A Escola Municipal Edmundo Lins, localizada no bairro de Ramos, batizou sua Sala de Leitura com o meu nome. A solenidade de inauguração da Sala de Leitura Sonia Rosa, com a presença de todos os alunos da escola, foi uma grande emoção. Hoje já tenho mais nove Bibliotecas com o meu nome, nos bairros de Irajá, Cordovil, Realengo, Campo Grande, Mangueira, Piedade (nome da Sala dos Professores), Tijuca (única da rede privada), cidade de Cabo Frio e recentemente em Bangu, inaugurada em outubro de 2019.

Os meus livros Amores de artistas, O segredo do vento, Quando o dia engoliu a noite, Jongo, Maracatu e Capoeira “visitaram”, nos últimos anos, o Catálogo de Bologna. Em 2008, o livro A Lenda do Timbó foi contemplado com o White Ravens, que vem a ser um catálogo com a seleção internacional dos melhores títulos do ano. Esta seleção é feita pela Internationale Jugendbibliothek, uma biblioteca infantil da Alemanha, considerada a primeira biblioteca para crianças a ser inaugurada no mundo. Participar dessa seleção foi, de fato, um grande prêmio para mim.

Quatro dos meus livros se tornaram “Livros Animados” do Canal Futura pelo projeto A Cor da Cultura, em 2005. Este programa ainda hoje é veiculado pela televisão e pelo site do Canal. Em 2006 e 2007 fiz uma outra especialização, agora na Universidade Castelo Branco, coordenado pela Professora doutora Teresa Salgado intitulado África-Brasil, laços e diferenças. Nesta oportunidade pude aprofundar os meus conhecimentos acerca da temática afro-brasileira, que sempre estiveram presentes na minha literatura, e, claro em minha vida, como mulher negra que sou.

Estudar a diversidade, compreender a riqueza desses estudos e colocá-los dentro do texto infantil, têm me dado grande alegria e satisfação. Sei que esta contribuição, apesar de modesta, é muito importante para os meus leitores brasileiros porque meus livros atuam como um “letramento racial”, isto é, através do contato com a literatura com temática negra, africana, afro-brasileira, a criança amplia seu conhecimento sobre a diversidade. No caso da criança negra ela fortalece sua identidade negra aumentando sua autoestima. Já em 2009, o livro O menino Nito foi traduzido e publicado na Galícia. Também foi interpretado, em vídeo, por uma contadora de histórias local, em galego. Poucos anos depois, meus outros livros Palmas e vaias e Quando a escrava Esperança Garcia escreveu uma carta foram traduzidos para o francês e, desde então, podem ser encontrados na França e nos países africanos de língua francesa. O livro Quando a escrava Esperança Garcia escreveu uma carta foi traduzido para o inglês, e editado nos EUA e no Canadá. O livro Capoeira foi traduzido para o italiano.

No ano de 2010 coordenei, como elemento da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, o projeto Todo Dia é Dia de Histórias, em sete escolas da rede, nos bairros: Deodoro, Vila Isabel, Madureira, Ramos, Bonsucesso, Jacarepaguá e Anchieta. Em sete meses de projeto, foram 1792 histórias compartilhadas nessas escolas – e muitas delas contadas por mim. Em 2011, fui entrevistada no programa ABZ do Ziraldo, pelo próprio autor. O programa continua sendo reprisado na TV Brasil. Nos últimos anos, não posso deixar de registrar que em todas as unidades SESI/SP que tive o prazer de visitar, fui muito bem acolhida. As crianças, os professores, as bibliotecárias, as chefias, e todos os funcionários estavam bastante envolvidos com o projeto, além de muito organizados e gentis. As atividades fluíram da melhor maneira e as conversas literárias foram vivas e enriquecedoras. Guardo ótimas lembranças desses encontros, especialmente a troca de afetos mediados pelos meus textos.

Como educadora e escritora, participei do Projeto Literatura Viva do SESI/SP, visitando várias cidades, num total de 30 cidades ao longo da parceria com o Sesi. Em 2011, visitei Araçatuba, São José do Rio Preto, Santos, Cubatão, Birigui e Diadema. Em 2012, estive em Campinas, Itu, Indaiatuba, Ribeirão Preto, Jardinópolis e Batatais. Em 2013, estive em Americana, Santa Bárbara do Oeste e Piracicaba. Em 2014, visitei Santo André, São Bernardo, São Caetano e Mauá.

Dentre outras atividades que considero relevantes destaco, abril de 2012, quando participei do XIV Salão do Livro (organizado pela FNLIJ, no Rio de Janeiro), com o lançamento de três livros: Vovó Benuta (Editora Record), Traços e tramas (Editora Rovelle) e O menino de olhar apertadinho que enxergava longe (Editora Autêntica). Ainda em 2012, tive a felicidade de publicar mais um livro: Quando a escrava Esperança Garcia escreveu uma carta (Editora Pallas). Este livro, é um livro muito especial para mim, nele tentei reproduzir a força dessa mulher, contando uma história real ambientada no Piauí, no ano de 1770, história de uma escrava alfabetizada que teve a coragem de escrever uma carta ao governador relatando os maus tratos sofridos e cobrando atitudes das autoridades. Participei também do XV Salão do Livro da FNLIJ, em 2013, com o lançamento do livro O piquenique da Monique, da Editora Memória Visual. No ano de 2014, também estive na programação do XVI Salão do Livro da FNLIJ, com o lançamento dos livros Alice vê (Editora DCL) e O casaco (Editora Rovelle).

No ano de 2013, os meus títulos O menino Nito, Tabuleiro da baiana e Maracatu foram selecionados para a aquisição nacional, PNBE (Programa Nacional de Biblioteca Escolar). Em 2018, fui contemplada pelas escolhas das professoras das escola públicas do Brasil pelo PNLD literário com os títulos Jongo, Capoeira, Cadê Clarisse, Lá vai o Rui, Como é bonito o pé do Igor, O menino Nito, Tabuleiro da baiana e Maracatu. E agora também: Alice vê e Os tesouros de Monifa. A circulação dos meus livros em todo território nacional me deixa muito feliz. É muito gratificante saber que uma criança brasileira de qualquer cidade tem acesso às obras que escrevo com tanto carinho. No mesmo ano de 2013, iniciei um trabalho com a Fundação Vale que vem me possibilitando visitar, como escritora e especialista de leitura voltada para a temática afro-brasileira.

Estive nos municípios do interior de alguns estados: Rio de Janeiro, Maranhão, Minas Gerais, Sergipe, Mato Grosso do Sul e Pará. Nestas oportunidades, conversei sobre estratégias exequíveis de formação de leitor dentro da sala de aula. Minha palestra se direciona aos professores do primeiro, segundo e terceiro ano da rede pública dessas regiões visitadas. A Fundação Vale apoia o PNAIC – Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa – projeto do Governo Federal que incentiva a alfabetização até os oito anos de idade. Nesta ação, se oferece autores de literatura infantil para ministrar palestras para todos os professores envolvidos. E ainda uma roda de conversa com os alunos, incluindo contação de histórias. Fui a primeira escritora a fazer parte desse projeto da Fundação Vale.

Em 2014, participei de algumas feiras literárias, como o 4º Salão do Livro de Guarulhos e da 21ª Felicita – Feira do Livro da Cidade de Itaboraí, pela segunda vez consecutiva. Ainda em 2014, estive na Bologna Children’s Book Fair, na Itália: a maior feira de literatura infantil do mundo. Este ano o Brasil foi o país homenageado. Ministrei uma palestra junto com o autor Daniel Munduruku sobre diversidades étnico-raciais. No período da Feira, alguns livros de minha autoria participaram de uma exposição sobre o Brasil no Centro Cultural Almícar Cabral, também em Bolonha, na Itália.

Em 2016 a parceria com a Fundação Vale se manteve e efetuei as visitas as escolas públicas de algumas cidades do Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Minas Gerais, Sergipe e costa verde do Rio de Janeiro. Não posso deixar de registrar aqui as muitas emoções vivenciadas em Açailância (MA), Itabira (MG) e Serra Pelada (PA), ainda minha participação no ano de 2018 em na Bienal de Alagoas, pelo Sesc, e no ano 2019 à convite da prefeitura minha participação na Bienal do Maranhão.

Por ser uma escritora que tem compromisso com o protagonismo negro na literatura e na vida, recebi um troféu da Prefeitura de Nilópolis: Mulher Negra 2019. E serei autora homenageada no ano de 2020 da Prefeitura de Itaborai.

Atualmente, visito muitas escolas para conversar com as crianças e contar histórias. Além disso, ministro palestras sobre assuntos referentes às questões étnico raciais, à leitura e à formação do leitor – para alunos e professores leitores, essas trocas também acontecem junto aos meus colegas escritores e ilustradores na AEILIJ (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantojuvenil), associação da qual sou sócia-fundadora.

Retomando profissionalmente minha atuação como pedagoga, retorno à escola, no ano de 2019, para desenvolver um instigante trabalho educativo. Exerço uma função inédita, eu, até então desconheço sua existência com este nome e formato, sou Consultora em Letramento Racial. Um trabalho inovador, instigante e que me obriga a estudar, todos os dias, isso me deixa mais estimulada ainda. Por perceber a sua pertinência e urgência dentro dos espaços das escolas para subsidiar a Lei 10.639/03 e desejo colocar o letramento racial como foco dos meus estudos e de trabalho em várias escolas, no campo do público e do privado.

Por ser novo, este meu ofício de consultoria de letramento racial, e suas atribuições inéditas, me obrigo a aprender fazendo. Na prática mesmo. O diretor e a diretora da escola que trabalho estão nesta parceria comigo, isto é, vivenciamos juntos este trabalho inaugural. Por isso, pensamos os caminhos e traçamos as ações para serem desenvolvidas com professores e famílias, numa perspectiva corajosa de trazer a discussão racial para o meio da roda como parte do trabalho formador da escola. Aliás, trazer esta pauta para o “meio da roda” já é uma maneira de fortalecer um dos valores civilizatórios brasileiros - a circularidade- que nos ensina que a vida é cíclica e que quando estamos em “círculos” todos nós podemos perceber a todos, logo, ampliamos e melhoramos nosso jeito de “olhar”. E mais ainda, quero subsidiar, academicamente e/ou organicamente a criação desse profissional educador de nome Letrador Racial. Um educador especialíssimo, com características e atribuições próprias que, me parece, ainda não existe, não com esse nome e formato.

O letramento racial é um conceito novo que migrou da alfabetização dos estudos de Magda Soares que significam saberes raciais que visam “educar e partilhar” esses saberes numa perspectiva de construir uma sociedade não racista. Com consciência e percepção sensível das manifestações preconceituosas e segregadores que muitas vezes são tratadas como não existentes. O letramento racial objetiva promover uma pedagogia antirracista. Por isso ele dialoga com a escola.

Decidi enfrentar um Mestrado de Relações Étnicos Raciais à porta dos meus sessenta anos. Sempre com um sentimento estimulante, tal qual uma filosofia de vida: “movimento gera movimento, que gera movimento, quer gera...”. Os conhecimentos adquiridos no mestrado foram “revolucionantes” em minha vida. Principalmente os novos conceitos que lá encontrei. Conheci e estudei sobre a branquitude e o letramento racial. Foram conceitos chaves para o meu entendimento de toda a dinâmica racista de nossa sociedade. Percebi a simples e a complexa afirmação: o racismo brasileiro é estrutural. Esta concepção, de base epistemológica, é muito bem explicada no singelo livro de Silvio Almeida: O que é racismo estrutural.

O racismo, e as suas manifestações segregadoras, discriminatórias, preconceituosas e desrespeitosas, estão presentes nas nossas convivências de maneira naturalizada. Por isso, vira deboche, piadinhas, brincadeiras constrangedoras. E muitos não consideram estas manifestações “amigáveis” como expressões racistas. Somos racistas sim, porque fomos “deformados” ao longo de nossas vidas com essas ideias e posturas. Confesso que me apaixonei pelo letramento racial. Considero que as reflexões que ele provoca (numa perspectiva de uma sociedade não racista através de uma pedagogia antirracista) o torna realmente imprescindível dentro de todas as escolas, desde a educação infantil.

Trabalhar educativamente com o letramento racial é criar uma estratégia de ampliação do olhar crítico do corpo docente frente às atitudes racistas que acontecem o tempo todo nas relações escolares. Pautada em diversas e acumuladas experiências dentro das escolas, reitero que os professores e gestores exercem e reforçam o racismo muitas vezes sem perceber que o fazem. Através do processo contínuo e intermitente do letramento racial talvez seja possível que os professores percebam suas práticas e mudem suas ações numa perspectiva de uma educação antirracista. Por tudo isso, reafirmo o meu compromisso com a escola, com as crianças, com a literatura negra afetiva e/ou com protagonismo negro, como elemento formador de mentalidades para crianças, jovens e seus pais.

Os provérbios africanos atuam como gotas filosóficas porque refletem as existências. Termino aqui com um provérbio da Costa do Marfim:“O saber é como o tronco do baobá. Ninguém consegue abraçá-lo sozinho”.

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